Exposições exploram apagões na comunicação e diálogos tecnológicos no mundo contemporâneo

Exposições exploram apagões na comunicação e diálogos tecnológicos no mundo contemporâneo

Alfabeto da Reta, de Edith Derdyk, problematiza a combinação entre atividade fabril e artesanal, e Sem Sinal, de João Bandeira, destaca suportes de comunicação fora de uso

O Centro MariAntonia inaugura, no dia 25 de junho, a partir das 18 horas, duas exposições com entrada gratuita. O público pode conferir as exposições de terça a domingo, e feriados, das 10 às 18 horas.

Sem Sinal, de João Bandeira,com curadoria de José Augusto Ribeiro, reúne 15 trabalhos em fotografia de grande formato, vídeo e serigrafia, que apresentam em sua maioria painéis e outros suportes de comunicação visual instalados nas ruas e demais áreas públicas de grandes cidades. As imagens apresentam as estruturas intactas, mas vazadas, em branco ou encobertas, onde estariam afixados cartazes e peças afins. 

As fotos registram esses suportes tal como estavam quando foram localizados, sem nenhuma manipulação para apagar o que haveria de material de comunicação. Os trabalhos indicam também escolhas do artista no ato do clique quanto a aspectos do entorno, ao horário do registro fotográfico e outros detalhes. A exposição inclui, ainda, fotos de restos lacerados de outdoors, também sem manipulação. Neste caso, o enquadramento destaca sempre uma única palavra-chave (privada, assim, de seu contexto discursivo), que alude ao lacunar, à falta, ao óbvio ou secundário.

Segundo Ribeiro, “as imagens produzidas por João Bandeira surgem de encontros fortuitos no espaço urbano com situações que são, a princípio, degradadas e vazias. De maneira geral, os trabalhos registram dispositivos de comunicação, como outdoors, cartazes e totens de informação, fora de uso. Mas tais flagrantes são tomados com uma austeridade e um rigor capazes de multiplicar as possibilidades de significação de seus materiais, interpelando o observador de maneira incomum”. Assim, Sem Sinal aborda questões em pauta na arte contemporânea, que interrogam as interfaces entre imagens e palavras naquilo que têm de condicionantes da vida cotidiana. 

Haverá, durante o período da mostra, uma visita guiada aberta ao público, seguida de conversa na exposição com o artista e curador.

Edith Derdyk, por sua vez, traz a exposição Alfabeto da Reta, com texto crítico de Sylvia Werneck, que tem, como ponto de partida, uma pesquisa sobre a geometria descritiva desenvolvida por Gaspard Monge, no final do século XVIII: um sistema de desenho projetivo que embasou o desenho técnico para efeito da produção industrial, provocando um impacto no desenvolvimento tecnológico na época da Revolução Industrial, por facilitar a visualização de objetos fabricados e sua sistematização.

A artista visual especula sobre os métodos de representação de operações gráficas maquínicas, frutos da abstração mental calcada na observação do real, facilitando a reprodução massiva de objetos industriais e a produção dos artefatos e suas problematizações com o tempo da costura manual e artesanal estabelecendo uma conversa entre a atividade artesanal fabril e atividade industrial febril. 

A exposição também alude, por decorrência, ao uso das fontes de energia primária que sustentam os modos de produção industrial, refletindo sobre a intensa exploração dos recursos naturais. A presença do carvão – fóssil antigo e fonte de energia não renovável, o motor da produção industrial de nossa história civilizatória -, sinaliza a problemática das fontes de energia naturais.   

Até 15 de setembro, está prevista uma programação paralela com uma ativação do grupo Bookscapes, da qual a artista faz parte, uma roda de conversa, uma visita guiada e o lançamento de um livro.

Artistas

João Bandeira é artista visual e poeta, desenvolvendo seu trabalho desde fins dos anos 1980, e lidando muitas vezes com a interface entre imagem e palavra em meios diversos, como desenho, gravura, fotografia, vídeo e dispositivos sonoros, além de, na tridimensionalidade, objetos e relevos. Foi integrante do coletivo Phoenix, ao lado de Lenora de Barros, Walter Silveira, Cid Campos e Arnaldo Antunes, atuando também como curador. Entre suas exposições, destacam-se a individual O Princípio é o Meio (Oi Futuro, Rio de Janeiro, 2016), e as coletivas Bienal de Coimbra (Portugal, 2019), Experimentação e Visualidade (Galeria Baró, São Paulo, 2016), Poesia (Galeria Virgílio, São Paulo, 2012), 7ª Bienal do Mercosul (Porto Alegre, 2009), Entre la Palabra y la Imagen (Fundación Luis Seoane, Espanha, 2006), Poemixbr (Rio de Janeiro, 2005), Palavra Extrapolada (Sesc Pompeia, São Paulo, 2003), Arteparole (Casa delle Lererature, Roma, 2002) e Brazilian Visual Poetry (Mexic Art Museum, AusYn, EUA, 2002),

Edith Derdyk é artista visual e escritora, realizando exposições coletivas e individuais desde 1981 no Brasil (Museu de Arte Moderna – SP e RJ, Pinacoteca do Estado de São Paulo, Centro Cultural Banco do Brasil – RJ; Museu de Arte de São Paulo, Centro Cultural São Paulo, Instituto Tomie Ohtake, entre outras) e no exterior (México, EUA, Alemanha, Dinamarca, Colômbia, Espanha, Portugal, França, Suécia). Recebeu prêmios, bolsas e residências no Brasil e no exterior em literatura e artes visuais.

Curador

José Augusto Ribeiro é doutor em Teoria, História e Crítica de Arte pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. Trabalhou como curador sênior da Pinacoteca de São Paulo, de 2012 a 2022. Entre as exposições que organizou na instituição estão A Máquina do Mundo – Arte e indústria no Brasil 1921-2021No Subúrbio da Modernidade – Di Cavalcanti 120 anos (prêmio da Associação Paulista de Crítica de Arte de 2017, Melhor Exposição Retrospectiva) e Vanguarda Brasileira dos Anos 1960 – Coleção Roger Wright. Foi diretor do Artes Visuais do Centro Cultural São Paulo, onde realizou exposições como Antonio Malta e Erika VerzuttiJosé Damasceno – Storyboard e Fernanda Gomes – Monográficas, entre outras. Também foi curador de mostras realizadas em outras instituições, como Guignard – Um Mundo a Perder de Vista, na Fundação Iberê Camargo, e Exigências do Presente, coletiva com obras de Carmela Gross, Jac Leirner, Leda Catunda e Jorge Macchi, no Centro MariAntonia. Tem diversos artigos publicados em catálogos de exposições, como Aproximações do Espírito Pop 1963-1968 (MAM-SP, 2003); Andy Warhol, Mr. America (Pinacoteca do Estado, 2010) e Geraldo de Barros: Imaginário, Construção e Memória (Itaú Cultural, 2019). Escreveu textos publicados em revistas especializadas, como ArtNexus, Arte y Parte entre outras. É autor de livros e ensaios.

Texto crítico

Sylvia Werneck é crítica de arte, curadora independente, pesquisadora e professora, especializada em arte contemporânea, sobretudo da América Latina. É membro das Associações Brasileira e Internacional de Críticos de Arte (ABCA e AICA), correspondente da Revista Artnexus e colunista da Revista babEL. Graduada em artes plásticas pela Universidade Mackenzie, tem especialização em Estudos de Museus de Arte, mestrado em estética e história da arte e doutorado em Integração da América Latina, todos pela USP. Faz curadorias em museus e espaços culturais desde 2008, foi professora universitária e parecerista de diferentes editais e projetos de artes visuais, ministra cursos livres e conduz mentorias para artistas em instituições e espaços culturais independentes. Integra o corpo curatorial do Lux Espaço de Arte, escreve independentemente para diferentes publicações e assina textos em catálogos de exposições. Atua como parecerista de revistas acadêmicas e participa de júris de premiações, seminários e congressos. 

Serviço

Exposições

Abertura – 25 de junho a partir das 18 horas

Alfabeto da Reta de Edith Derdyk

Sem Sinal de João Bandeira

Onde | Centro MariAntonia – Edifício Joaquim Nabuco

Rua Maria Antônia, 258 – Vila Buarque – São Paulo, SP (próximo às estações Higienópolis e Santa Cecília do metrô)

Quando De 25 de junho a 15 de setembro de 2024

Visitação | terça a domingo, e feriados, das 10 às 18 horas 

Quanto | Grátis

Informações | (11) 3123-5202