Perseguição e solidariedade na ditadura chilena são tema de exposição gratuita no 4º DH Fest – Festival de Cultura em Direitos Humanos

Perseguição e solidariedade na ditadura chilena são tema de exposição gratuita no 4º DH Fest – Festival de Cultura em Direitos Humanos

Documentos dos perseguidos na ditadura de Augusto Pinochet no Chile, a partir de 1973, fazem parte da mostra, que também ressalta a solidariedade de organizações e igrejas que salvaram vidas. A artista brasileira Fulvia Molina também apresenta instalação com as 434 vítimas citadas no Relatório da Comissão Nacional da Verdade no Brasil.

O Centro MariAntonia inaugura, no dia 13 de dezembro, às 16 horas, a exposição Memórias encontradas: entre a solidariedade e a perseguição, que traz a história de homens e mulheres que, no golpe de Augusto Pinochet – 11 de setembro de 1973 – ingressaram na Embaixada da Argentina, em Santiago do Chile, em busca de refúgio. Os perseguidos incluíam muitos brasileiros e brasileiras que também não puderam regressar ao Brasil. O público pode conferir a mostra de terça a domingo, e feriados, das 10h às 18h, com entrada gratuita, como parte da programação do 4º DH Fest – Festival de Cultura em Direitos Humanos, realização do Instituto Vladimir Herzog (IVH) e Criatura Produções, com patrocínio da CAIXA.

A inauguração contará com uma programação diversa. Às 16 horas, haverá a exibição do filme Memórias e Exílio, de Silvio Tendler, e vídeo com depoimentos de ex-exilados; às 17h30 a mesa de apresentação da exposição, seguida de visita guiada e, às 18h30, debate sobre o livro do projeto Heroínas dessa História, encabeçado pelo IVH.

A partir de documentos produzidos pela Dirección de Inteligencia de la Policía de la Provincia de Buenos Aires (DIPPBA), que fotografou e registrou todos os latino-americanos que foram asilados na Embaixada da Argentina, e produziu fotografias, fichas com datas de ingresso, antecedentes ideológicos e de destino posterior, a exposição foi idealizada pela Comisión Provincial por la Memoria de Buenos Aires e chega a São Paulo, com a parceria do Instituto Vladimir Herzog, após ter passado pelo Uruguai, Chile, Argentina e, no Brasil, por Porto Alegre, Curitiba, Campinas e Niterói.

O material exposto no Brasil envolveu a tradução de sete painéis textuais que acompanham as fotos, bem como a produção de oito painéis fotográficos em tamanho natural de brasileiros que estiveram na embaixada. Dois deles, Daniel José de Carvalho e José Lavecchia, figuram entre os seis sequestrados e assassinados no Massacre de Medianeira, em 1974, cujos corpos até hoje não foram localizados.

A década de 1970 foi marcada por regimes ditatoriais no Cone Sul da América Latina (formado por Argentina, Chile, Uruguai e Paraguai) que deixaram mortos e desaparecidos, além de prisões políticas, torturas e exílios massivos. Ao mesmo tempo que se constata a colaboração entre os militares de diferentes países, também há a solidariedade dos povos que denunciaram a violência e salvaram vidas. 

A artista Fulvia Molina integra a exposição com a instalação Memória do Esquecimento, com retratos de cada uma das 434 vítimas relatadas no Relatório da Comissão Nacional da Verdade, e que consiste de um conjunto de cilindros e painéis em acrílico e vinil transparente. Segundo Molina, a instalação “busca trazer para o presente, por meio de transparências e veladuras, as camadas de memória da dor de nosso passado ditatorial recente”. 

Também o coletivo Linhas de Sampa trará dois painéis – 60 anos do golpe de 64  – Para que não se esqueça – Mortos e desaparecidos pela ditadura civil-militar no Brasil 1964-1985, que registra os nomes de 434 mortos e desaparecidos reconhecidos pela Comissão Nacional da Verdade, e 60 anos do golpe de 64 – Ditadura Nunca Mais – Atrocidades cometidas pela ditadura civil-militar no Brasil  1964-1985, que tem o objetivo de dar a conhecer às novas gerações o que aconteceu no país no período da ditadura, com a violência, a prática da tortura e os assassinatos por agentes do Estado.

Em março de 2025, está prevista uma programação paralela, composta por mesas-redondas, ciclo de filmes, oficinas de bordado e visitas guiadas.

Quem são
Comisión por la Memoria (CPM) é um organismo público autônomo e autárquico, que promove e implementa políticas públicas de memória e direitos humanos. Seu objetivo e linhas de trabalho expressam o compromisso com a memória do terrorismo de Estado e a promoção e defesa dos direitos humanos na democracia. Atualmente é presidida pelo Nobel da Paz, Adolfo Pérez Esquivel, e pela historiadora Dora Barrancos.

Instituto Vladimir Herzog é uma organização da sociedade civil criada em junho de 2009 para celebrar a vida e o legado de Herzog, jornalista assassinado pela ditadura militar que dominou o Brasil entre 1964 e 1985. A instituição tem como missão trabalhar com a sociedade pela defesa dos valores da Democracia, dos Direitos Humanos e da Liberdade de Expressão. 

Linhas de Sampa é um coletivo de bordado ativista que reúne mulheres de esquerda e que luta por democracia e direitos humanos. Nasceu em 13 de abril de 2018, tempo de perseguição à esquerda, de crescimento do número de assassinatos de ativistas e lideranças como Marielle Franco e prisões arbitrárias como a de Lula. Atua nas ruas de São Paulo promovendo rodas e oficinas de bordado para debater temas da atualidade. 

Fulvia Molina é uma artista que volta sua atenção à memória política e social do país, principalmente nos aspectos ligados à violação dos direitos humanos, à condição feminina, à exclusão social e à migração. É mestre em Artes pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, fez residência artística na Universidad Politécnica de Valencia (Espanha), no Centre de Diffusion Press Papier de Québec (Canadá) e no Frauen KunstForum em Hagen (Alemanha). Seus trabalhos em pintura, gravura, objetos, fotografia, áudios e vídeos procuram expressar as diferentes camadas da realidade se fragmentando e se refletindo, sendo percebidas a cada momento como atualização da consciência.

Serviço

Exposição Memórias encontradas: entre a solidariedade e a perseguição

Abertura 13 de dezembro – a partir das 16 horas 

16 horas – Exibição do filme Memórias e Exílio, de Silvio Tendler, e vídeo com depoimentos de ex-exilados

17 horas – Mesa de apresentação da exposição, seguida de visita guiada

18h30 – Debate sobre o livro do projeto “Heroínas dessa História” 

Onde |  Centro MariAntonia – Edifício Rui Barbosa

Rua Maria Antônia, 294 – Vila Buarque – São Paulo, SP (próximo às estações Higienópolis e Santa Cecília do metrô)

Quando | De 13 de dezembro de 2024 a 30 de março de 2025

Visitação | terça a domingo, e feriados, das 10h às 18h 

Quanto | Grátis

Informações | (11) 3123-5202